Paulo Núncio, deputado do CDS, criticou na Assembleia da República a série de animação “Sex Symbol”, exibido na RTP2, considerando-o inadequado e chocante para muitas famílias. O primeiro-ministro Luís Montenegro lamentou igualmente que o conteúdo tivesse sido transmitido nesses termos.
O episódio em causa, intitulado de “Transgénero”, foi exibido na RTP2 a 16 de novembro às 19h25. “Sex Symbol” é uma série de animação espanhola sobre mudanças físicas e sexualidade na pré-adolescência, e dedicou esse episódio ao tema das pessoas transgénero. Nele, Lúcia — uma jovem trans — conversa com dois rapazes para explicar o que significa ser transgénero.
Paulo Núncio afirmou que o programa, dirigido a crianças, representa “propaganda de ideologia de género” e anunciou que o CDS irá apresentar um voto de protesto contra a sua transmissão na RTP. Criticou ainda a forma como o tema é abordado, dizendo que promove ideias com as quais muitas famílias não concordam, incluindo a noção de que o género pode ser alterado ou redefinido e que crianças poderiam mudar de identidade através de hormonas. Segundo o deputado, isso não é o que os pais querem que os filhos vejam na televisão pública.
A Plataforma Já Marchavas lamenta o conservadorismo bafiento de Núncio e Montegro. A linguagem hostil às identidades trans por parte de ambos mostra a institucionalização da transfobia no país. Crianças e jovens trans e não binários existem e merecem ser respeitados, tal como outra criança. Os pais deveriam ficar contentes pelo serviço público prestado pela RTP, de louvar a iniciativa.
Não podemos esquecer que pessoas trans sofrem discriminação, violência e segundo os dados da Trans Murder Monitoring (TMM) da Transgender Europe (TGEU), uma pessoa Trans é assassinada por dia no Mundo. Em Portugal, a transfobia existe e são conhecidos vários casos. Recentemente vivemos uma tragédia com a morte de Noori, uma pessoa jovem trans de Almada desaparecida em outubro de 2025 e cujo corpo foi encontrado umas semanas depois.
Ter programas infantis inclusivos que falam sobre questões de sexualidade e de questões trans não é ideológico. Ideológico é negar a existência de pessoas trans, negar-lhes os seus direitos e não querer ter políticas públicas para a educação sexual. Ideológica é a posição do CDS e do Governo de Luís Montenegro que se aliam à extrema-direita e ao conservadorismo da Igreja Católica na falsa narrativa da “ideologia de género”.





