A Plataforma Já Marchavas, enquanto coletivo que se revê nos valores da democracia, da liberdade e da justiça social, repudia com firmeza o apagamento simbólico a que o 25 de Abril está a ser sujeito em 2025.
Apesar de o Governo afirmar que “a tradicional abertura da Residência Oficial (jardins e piso térreo), com distribuição de cravos, mantém-se no dia 25 de Abril”, a verdade é que os sinais dados falam mais alto do que os comunicados formais. E os sinais são claros: o primeiro-ministro optou por não estar presente no dia 25, transferindo a sua participação para o dia 1 de Maio — uma escolha que banaliza e desvaloriza o momento fundador da nossa democracia e que, inadvertidamente ou não, acaba também por ofuscar o Dia do Trabalhador, outro marco histórico de luta e conquista dos direitos sociais.
Por todo o país, municípios têm vindo a adiar ou cancelar iniciativas evocativas da Revolução dos Cravos. A Câmara Municipal de Viseu, por exemplo, adiou os eventos que implicam “extroversão”, mantendo apenas as cerimónias protocolares. Este tipo de discurso, que classifica as manifestações públicas de liberdade como excessos que devem ser contidos por respeito a um luto religioso, não só revela um desprezo profundo pelo significado do 25 de Abril, como perpetua uma ideia perigosa: a de que a liberdade pode ser adiada, suspensa ou negociada.
Não se trata apenas de uma questão de calendário. É uma questão de princípio. Não se honra a democracia adiando-a. É fundamental lembrar que o 25 de Abril não é apenas um feriado — é o dia que marca a queda de uma ditadura de quase meio século, a conquista do direito ao voto, à liberdade de expressão, à organização sindical, à autonomia cultural. É o dia em que Portugal se fez livre.
Aceitar que este dia seja reduzido a uma nota de rodapé em nome de um luto religioso, por mais respeitável que seja a figura em causa, é abdicar do nosso dever de memória e de vigilância democrática. Não está em causa o respeito pessoal ou institucional pela morte do Santo Padre, mas sim a gravidade de subordinar os valores democráticos a entidades externas ao Estado laico.
Sabemos que desfiles populares continuam a ser organizados em várias cidades e que muitas pessoas, individualmente ou em coletivos, estão determinadas a sair à rua. Saudamos essa resistência. Porque celebrar o 25 de Abril não é uma escolha — é uma responsabilidade.
A ausência do primeiro-ministro em Belém no dia 25, o adiamento de atividades festivas, as justificações ambíguas e evasivas apresentadas por várias autarquias reforçam a ideia de que há um desconforto em assumir, com clareza, o valor político e simbólico do 25 de Abril. Estes gestos, ainda que mascarados de neutralidade institucional, carregam um significado que deve ser analisado, confrontado e criticado.
É nosso dever exigir que o Estado respeite a História e mantenha viva a chama da Revolução. O 25 de Abril celebra-se sempre, em qualquer circunstância, porque sem ele não haveria sequer liberdade para celebrar.
Apelamos aos cidadãos e cidadãs de Viseu e de todo o país para que se mantenham firmes. A liberdade conquistada em 1974 não é propriedade de nenhum governo, partido ou líder religioso. É um património coletivo. E como tal, deve ser afirmado, vivido e defendido todos os dias — mas sobretudo no dia 25 de Abril.
A Revolução fez-se para que ninguém voltasse a mandar calar o povo. Nem por força, nem por conveniência, nem por silêncio cúmplice.
Em Viseu, como em todo o país, 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais.