Foi há 19 anos, a 22 de fevereiro de 2006, que ocorreu o assassinato transfóbico de Gisberta Salce Júnior, no Porto.
Gisberta foi uma mulher transsexual, trabalhadora do sexo, imigrante brasileira, sem-abrigo e portadora de VIH/SIDA, que vivia no Porto e foi barbaramente agredida e torturada até à morte por um bando de miúdos entregues aos cuidados de uma instituição católica. Cinco meses depois do seu brutal assassinato, nascia a Marcha do Orgulho do Porto.
Dezanove anos depois, as poucas conquistas para a população trans no movimento LGBTQIA+ em Portugal e no resto do mundo estão ameaçadas. Uma a uma estão a cair em vários países. Vivemos hoje um verdadeiro apagamento de conquistas de direitos por parte de grupos e de governos populistas e de extrema direita que impõe uma agenda LGBTQIA+ fóbica e uma política de discriminação de género ou de orientação sexual.
A população intersexo, não binária, mas sobretudo a população trans, estão a ser alvo de intensos ataques da extrema direita. Veja-se nos EUA, como Trump apagou toda a história de pessoas trans no Monumento Nacional de Stonewall, removeu a letra “T” da sigla, proibiu mulheres trans de praticar desportos femininos e aplicou uma lei que reconhece apenas dois sexos (masculino e feminino).
Ou na Argentina, em que Javier Milei promulgou dois decretos que alteram a histórica Lei de Identidade de Género, considerada um marco mundial dos direitos das pessoas trans.
Em Portugal, não bastava haver grupos neonazis que atacam apresentações de livros infantis e marchas do Orgulho, como ainda o Governo de direita quer retirar das escolas públicas o guia “O Direito a Ser nas Escolas”, dirigido a docentes e não docentes. Este guia sobre identidade de género é uma importante ferramenta que previne o bullying, que combate a discriminação e a violência nas escolas.
19 anos depois da morte de Gisberta, não podemos esquecer todos os ataques a que as pessoas trans estão sujeitas diariamente e que, hoje, mais do que nunca, o movimento LGBTQIA+ se deve mobilizar em força para a defesa desta população. É para combater este apagamento que devemos continuar a recordar sempre a nossa memória coletiva.