Talvez o ano mais atípico das nossas vidas, 2020 foi um ano que dificilmente alguém se esquecerá, sobretudo pelas piores razões, mas também por algumas boas razões.
Em 2020, a Plataforma Já Marchavas, que se assume como um movimento de cidadãs e cidadãos e de coletivos unidos na luta feminista, LGBTI+, antirracista, antifascista, ecologista e que promove a democracia, a inclusão e a participação, não deixou de ocupar a rua, o espaço público para reivindicar, lutar e exigir mais liberdade e igualdade.
Os direitos humanos continuam a ser postos em causa diariamente e de todas as lutas que a Plataforma, enquanto movimento social, continua a reivindicar todos os anos há uma que este ano se destacou em particular, a luta anti-racista. O movimento anti-racista ganhou novos protagonistas, novas frentes e uma nova urgência, que despoletou com o movimento Black Lives Matter nos EUA e que rapidamente contagiou os movimentos sociais da Europa.
Para a Plataforma Já Marchavas o ano começou logo com uma homenagem a Giovani (estudante de origem cabo-verdiana que faleceu a 31 de dezembro) e em março assinalou-se mais um dia internacional da Mulher, com uma concentração feminista que celebrava a união entre as mulheres e para lembrar que ainda há um caminho a percorrer na defesa dos seus direitos.
Com o início da pandemia em Portugal e com o confinamento a luta deixou de ocupar as ruas temporariamente, ocupando-se a internet com várias iniciativas. Com “A Rua em tua Casa” mantivemos acesa a chama da luta e não deixando de comemorar os 46 anos do 25 de Abril.
Tivemos duas vigílias contra a violência racista e xenófoba, que assinalaram também as mortes de Bruno Candé e de George Floyd. O covarde assassinato do cidadão ucraniano, torturado até à morte por inspectores do SEF, e a complacência da tutela, demonstra que tinhamos razão ao protestar contra a violência policial, também em Portugal, há muito denunciada pela ONU e por organizações de defesa dos Direitos Humanos.
A 11 de outubro a Plataforma conseguiu levar para a rua centenas de pessoas que marcharam pelos direitos LGBTI+, naquela que foi a única marcha LGBTI+ presencial em Portugal, em 2020. A 3.ª marcha foi um dos momentos mais altos do ano pelo sucesso da organização, pelas suas reivindicações e por ter assinalado os 15 anos da manifestação STOP Homofobia.
O final do ano ficou marcado pela instalação de um estendal com roupa preta, no dia 25 de novembro, para homenagear as trinta mulheres assassinadas de 1 de janeiro a 15 de novembro de 2020 em Portugal. A Câmara Municipal de Viseu silenciou e vitimizou duplamente aquelas 30 mulheres a quem já tudo lhes tinha sido retirado, inclusive a vida, ao remover essa instalação em menos de 24 horas do Rossio. No dia 10 de dezembro a Câmara Municipal de Viseu voltou a remover a instalação que assinalava o dia dos Direitos Humanos, desrespeitando os direitos humanos e desvalorizando os movimentos sociais.
Desde manifestações, vigílias, concentrações, distribuições, bancas a criação de fanzines (“Zinoide”), foram várias as ações de rua. Apesar de todas estas ações da Plataforma ao longo do ano, que apelam a causas universais, de lutas internacionais e interseccionais, os Direitos Humanos continuam a ser ignorados e desrespeitados e a cidade de Viseu não é uma excepção. O que se pretende é um espírito livre, crítico e cívico. Às vezes é preciso desobedecer.
Citando o manifesto da 3.ª Marcha de Viseu Pelos Direitos LGBTI+: “É preciso desobedecer! É preciso uma transformação! É preciso consciencializar e construir uma sociedade solidária, cooperativa e não individualista. Esse passo tem de ser dado na escola, que deve ser um espaço político e social, que contribua para práticas igualitárias e de espírito crítico. Falar de Revolução pode parecer forçado, banal ou desadequado, mas o que foi Stonewall senão o início de uma revolução em constante mutação? Esse espírito não pode ser apagado e devemos lembrar-nos todos os dias de quem deu a vida pela nossa liberdade. A revolução é necessária para uma mudança completa da sociedade. A revolução só será se for Feminista, LGBTI+, Ecologista, Antirracista, Antifascista, Democrática, Inclusiva e Participativa.”
No final deste ano tão atípico mostramos a vontade de luta, de mudança, de voz presente pela erradicação de todas as formas de discriminação e opressão humana. Assim, para o ano de 2021, o desejo é de continuar este caminho de luta que se faz a partir de Viseu, para todas as pessoas que cá vivem, como no reconhecimento da universalidade destas causas além fronteiras e com que nos solidariamente reconhecemos e apoiamos.